domingo, 4 de março de 2007

No Mundo da Lua

Quando cheguei no cume do Morro do Boné, sozinho, gritei. E minhas palavras ecoavam por todo lindo vale abaixo, como um sinal para eu entender bem e escutar minhas próprias palavras. Eu precisava botar pra fora todas minhas aflições, decepções de um mundo que ficava pequeno visto lá de cima, do alto da montanha. Precisava me soltar dos grilhões que me prendiam a tudo isso, me libertar.

Armei minha “casinha azul”, num terreno não muito regular, no único pedacinho descampado que eu achei. Dessa vez a vista da varanda não era grande coisa, pois tinha bem na sua frente uma grande rocha. Mas essa própria rocha me serviu como uma poltrona feita sob medida, para que eu pudesse assistir confortavelmente o espetáculo que estava por vir: o pôr do Sol. Mais uma vez, eu era o único na platéia. Toda a magia daquele momento era só meu. Meu mp4 fazia aquele momento ter trilha sonora, como um clipe da minha vida.

And I don't need your sympathy to get me through the day Seasons change and so can I Hold on boy, no time to cry...

E o Sol se esconde atrás do seu belo poente de montanhas. Agora, eu olhava pro lado oposto, leste, onde começaria outro grande espetáculo que me motivara especialmente para estar nesse lugar: o eclipse total da Lua! E assim que ela apareceu no horizonte já mostrava parte de sua circunferência tomada pela sombra da Terra. Atento, eu não perdia nada dessa evolução. Cada vez mais tomada pela sombra, a Lua mudava de cor. Passou a mostrar um vermelho intenso e depois foi lentamente escurecendo.

No meio do espetáculo vejo luzes distantes de lanternas,subindo a montanha. Vagarosamente iam se aproximando. Eis que surge um grande grupo de pessoas, que tiveram a mesma idéia que eu. Agora eu já não estava mais sozinho. Por coincidência, vejo que alguns amigos estão nesse grupo. Trata-se do Joe e da Luciana, eles tem um restaurante e moram no sopé do Morro do Boné, bairro Rocio. Bom reencontrá-los aqui. Ofereci um pedaço de chocolate pra turma e logo conquistei a simpatia de todo grupo. Seguimos então vendo o espetáculo do eclipse, juntos, conversando.

No momento do eclipse total, a Lua desaparece. A escuridão toma conta de tudo e permite que as estrelas agora mostrem seu brilho. O caçador de Órion mostra todo seu vigor com suas armas em punhos, exibindo sua nebulosa com orgulho. Sua alfa, a gigante avermelhada Betelgeuse é minha estrela favorita. Os cães o acompanham. Vejo Touro e sua alfa Aldebaran, perto das famosas Plêiades. Sírius, a mais brilhante de todo céu estava linda.

Deitado na pedra observando o eclipse, reflito sobre minha vida. Me lembro de uma história que me contaram sobre o eclipse. Falava da paixão do Sol e da Lua. Muito bonita a história, mas agora vejo que foi contada pela pessoa errada.

This world is spinning around me This world is spinning without me Every day sends future to past

Vários vaga-lumes aparecem para engrandecer o espetáculo e aumentar ainda mais o brilho dessa noite. Vejo satélites que passam rapidamente riscando o céu. Vejo relâmpagos de uma nuvem distante. Algumas nuvens se aproximam e assustam o grupo que estava comigo, que logo decide partir. Melhor assim, estava sozinho novamente. E assim foi, até acabar o eclipse. Agora eu já podia dormir.

Acordei assustado, ouvindo vozes e risadas baixinhas. Passos em volta da minha barraca. Olhei a hora: 1 hora da madrugada. Não sabia se estava sonhando ou estava escutando vozes de verdade. Mesmo com medo, resolvi ver o que era. Eu estava só de cueca dentro do saco de dormir, então só abri a porta e botei a cara pra fora. Gritei perguntando se tinha alguém, não recebi resposta. Não vi nada. Fiquei atento dentro da barraca, e as vozes voltaram. Botei a bermuda, peguei o canivete. Alguma coisa cai em cima da minha barraca, fazendo barulho e me assustando. Saio pra ver o que era. Minhas suspeitas se confirmaram: era meu irmão Eric e o amigo Nelson. Estes morriam de rir em cima da pedra. Eu voltei pra barraca bravo (e aliviado). Perguntei se eles trouxeram uma ICE gelada e eles responderam que não. Pensei se eles mereciam ou não dormir na minha barraca. Eles acabaram entrando. A barraca que estava grande e espaçosa agora se tornara pequena e apertada para 3 pessoas e suas tralhas. Mas logo eu estava dormindo novamente.

Acordamos cedo para ver o Sol nascendo. Mais um espetáculo da mãe natureza. Eu cambaleava de sono. Logo tratamos de levantar acampamento e encarar a descida.

Mais uma vez, minha velha amiga montanha cumpriu seu papel. Tratou com presteza de filtrar meus pensamentos, recarregar minhas energias. Mais uma vez me sinto privilegiado por poder aproveitar os fenômenos da natureza de uma forma tão intensa, em um lugar tão lindo. Mais uma experiência que marca minha memória para sempre!

3 comentários:

Nelson disse...

Melhor que ver o Sol nascer foi ver a sua cara de apavorado! Foi mal Lobin, eu juro que não faço mais. Na verdade a idéia foi do Eric, e eu como bom Lobinho só obedeci,rs.

Tenho certeza que vc aproveitou as horas que passou lá em cima, a montanha sempre nos traz bons momentos de reflexão. Boa semana pra ti velho Lobo ;)

Anônimo disse...


amei o texto!
vc é um ótimo escritor e sabe passar tudo o que está sentindo pra gente, como se estivéssemos presentes lá com vc!
bjs

Anônimo disse...

Pri...
oi amigo lindo...
concordo com o post da sua miga Paty...relamente escreve mt bem e expressa de forma mt bonita tudo o que passa com vc...dentro de vc...
queria ter esse dom...já foi época de escrever mt...
mas enfim...
fotos lindas...como sempre...e dia lindo para uma pessoa linda!
gosto mt de vc...vc sabe né?
e apesar de não estarmos em contato direto...saiba que só te desejo o que há de melhor nessa vida...vc merece...outra coisa que tbm já sabe né? rsrs
e é isso por hj...
espero que não fique mais triste por coisas tão banais...
espero que só guarde o que for bom no seu coração...
isso vai te fazer crescer ainda mais...por dentro né? se contenta com isso...rsrs
beijo amigo...
e tudo de bom msm pra vc!!!
mt luz!!!! paz e amor tbm né?