terça-feira, 20 de outubro de 2009

Cicloviagem Volta Redonda- RJ x Paraty- RJ. 244 kms
Participantes: Michel, João Bosco, Zoreia e Reginaldo

Sábado, dia 17 de outubro: Volta Redonda- RJ x São José do Barreiro- SP (Pousada Lageado)
107 kms

Eu estava ansioso, pois sabia se tratar de um grande desafio com muitos quilômetros de pedal. Mas também muito animado, na certeza que o caminho revelaria belas paisagens e renderia boas histórias. A companhia era perfeita, um time que pedala muito bem e, acima de tudo, são ótimos companheiros, seja para pedalar ou para um bom papo (juntando as duas coisas é melhor ainda).

O primeiro contratempo foi em Barra Mansa, com meu pneu furado. Por sorte foi em frente ao posto de gasolina e isso me poupou algumas "bombadas". Pegamos estrada de terra rumo à Rialto e paramos pra fazer um lanche. Quando fui sair, outro pneu furado (essa praga é das boas, mas eu sou teimoso- pensei). Pneu trocado, seguimos pedalando. Mas foi por pouco tempo... Mais adiante, os 2 pneus furaram ao mesmo tempo! Aí me deu vontade de jogar os caros "sapatos" de kevlar Bontrager fora, com roda e tudo! Pensei em voltar e desistir de acompanhar a turma até para não prejudicá-los. Foi quando o Zoreia entrou em cena, me incentivando a continuar. Decidí então seguir até São José do Barreiro e tentar achar uma loja de bike para comprar outros pneus, mas só encontrei um mercadinho de esquina que vendia umas pecinhas de bike e, por sorte, pneus Levorin de 17 reais! rsrsrs. Aí ficou a dúvida: será que aguenta?? Comprei. Troquei, meti na terra e não é que o bichinho parecia ser bonzinho? ( Até o fim dessa postagem não tocarei mais no assunto sobre meus pneus, porque simplesmente os "Levorins" me levaram até Paraty sem um furinho sequer. Eles ganharam definitivamente a vaguinha na minha magrela).

Almoçamos em São José do Barreiro e nos preparamos psicologicamente para enfrentar a dura subida de 21 kms de estrada de terra até o alto da Serra da Bocaina. E pra aumentar o peso do fardo ainda começou a chover torrencialmente, transformando aquela terrinha gostosa em lama pura! No meio do caminho ainda tivemos que ajudar um fusca que ficou atolado na subida, o negócio tava feio... Começou a escurecer e nós ainda estávamos na fase do "empurra-bike" nos arrastando no meio de toda aquela lama morro acima com relâmpagos iluminando repentina e assustadoramente toda a mata que nos cercava. Mas como diz o João Bosco, o "agora" passou e a noite terminou bem, com todo o grupo confortavelmente instalado na Pousada Lageado, com a barriguinha cheia da comida preparada no fogão à lenha do seu carismático proprietário Sebastian.


Domingo, dia 18 de outubro: S. J. do Barreiro- SP x Campos Novos de Cunha- SP (Pousada Trilha do Ouro) 57 kms

Colocar as roupas para secar perto do fogão a lenha foi uma boa idéia, mas isso não resolveu totalmente o problema. Foi duro ter que vestir a farda molhada no friozinho da manhã. Pra piorar, justamente na hora da nossa partida começou a pingar. Por sorte, logo nos primeiros quilômetros o tempo começou a mudar completamente e o Sol deu as caras, nos brindando com ótimas fotografias. Mas o Sol também nos castigou bastante nas várias subidas, ainda bem que essa região é rica em nascentes e bicas d'água e sempre era possível encher a caramanhola com a pura água da serra. Passamos por lugares incríveis, rodamos muito tempo sem encontrar ninguém pelo caminho. As poucas casas eram totalmente isoladas, o lugar é uma calmaria só. A sensação de estar chegando em uma vila mais habitada foi somente quando nos aproximamos de Bairro dos Macacos. Mas mesmo antes de chegar no centro desse vilarejo paramos para um "almoço cortesia" na casa do Ademar, um morador local. Diante do nosso pedido de informações e água, ele se prontificou a nos ajudar e logo começou a preparar um almoço. São nessas horas que podemos constatar a bondade e solidariedade do nosso povo. Um homem simples, que se prestou a compartilhar sua comida e bebida conosco. Isso não tem preço! Muito obrigado, Ademar!

Depois do almoço, pegamos uma descida de 12 quilômetros e chegamos no centro do Bairro dos Macacos. Só encontramos uma padaria aberta e aproveitamos para dar mais uma "forrada" na barriga. Pretendíamos pernoitar nesse lugar mas não achamos nenhuma pousada funcionando, resolvemos então seguir até Campos Novos de Cunha. No finalzinho do trajeto, já de noite, a chuva aumentou muito. Pra completar, o freio e o farol da bicicleta do João Bosco resolveram entrar em greve. Descemos as últimas ladeiras caminhando e conversando tranquilamente debaixo do temporal. Quando chegamos em Campos Novos, Reginaldo e Zoreia já nos esperavam numa lanchonete e já tinham até acertado uma pousada. Arrumamos as coisas na pousada, tomamos banho e depois voltamos na tal lanchonete para comer uma deliciosa pizza e tomar uma cervejinha gelada, nossa forma de comemorar mais um dia maravilhoso!


Segunda, dia 19 de outubro: Campos Novos de Cunha - SP x Paraty -RJ. 80 kms

A expectativa era grande para esse dia, mas eu também tinha alguns temores. Depois do café da manhã, todos deram uma geral nas bikes e o resultado não foi muito bom: constatei que meu freio hidráulico dianteiro estava com as pastilhas totalmente gastas e pra piorar ainda tinha vazado óleo. O traseiro estava com as pastilhas quase na lona e eu temia não ter pastilha pra pegar o trecho final da forte descida Cunha-Paraty. A bicicleta do Reginaldo estava sem o freio traseiro devido a problemas no cabo de aço e a do JB estava com os aros bem gastos, mas o problema no freio do dia anterior foi solucionado com a troca das borrachas de freio. Isso tudo na verdade se mostrou um grande erro da nossa parte, não planejando peças de reposição emergenciais para as bikes. O planejamento pode ser o fator determinante para garantir o sucesso de uma viagem como essa. Fica a lição para uma próxima aventura...

O dia estava nublado, pelo menos não chovia. Pegamos uma estrada asfaltada que parecia não ter fim. As subidas eram implacáveis. A disposição para pedalar já não era a mesma, o cansaço acumulado era grande. A bunda já não achava mais uma posição confortável no selim e a mochila maltratava as costas. Avistar Cunha após uma curva foi uma grande alegria, pois eu estava muito cansado mesmo e doido para parar com calma e almoçar. E assim foi feito. Demos um bom descanso na pracinha da Igreja Matriz e tomamos um banho no chafariz, que ajudou muito. Um picolé também caiu bem. Mas não podíamos relaxar, ainda tínhamos alguns bons quilômetros pela frente...

Entramos na Estrada Real, a famosa rota construída na época o Império para escoar todo o ouro das Minas Gerais para o porto de Paraty. Hoje, a riqueza explorada é o turismo. A estrada está em grande parte asfaltada e possui belos marcos indicativos de distâncias e informativos históricos. Seguimos, subindo muito. E como nesse último dia não podia ser diferente, a chuva nos atacou novamente!

Justamente no final da subida, acaba o asfalto. Placas indicam que entramos novamente no Estado do Rio. Estamos a uma altitude de aproximadamente 1.200 m e em cerca de 20 kms despencaremos para zero ao nível do mar em Paraty. A estrada de terra está interditada para obras, devido a vários deslizamentos de pedras e barrancos. Para quem gosta de descida casca-grossa esse é o lugar! Chovia tanto que nem dava para tirar fotos. Todos nós íamos bem devagar devido aos problemas com as bikes.

Imaginei as mulas descendo com as cestas abarrotadas de ouro por esse mesmo caminho que nesse trecho provavelmente não mudou muito desde a época do Império.

Além da chuva, a serração era forte. E eu que queria tanto ver o mar... Num trecho encontramos um bar feito de bambú que serve como ponto de apoio. O dono deixou vários cachos de bananas para qualquer um que passar se servir e comer a vontade. E nós comemos muito! O frio era tanto que eu desci caminhando para movimentar as pernas, já que para descer montado na bike nem precisava pedalar e as pernas começavam a dar sinais de câimbras. Foi anoitecendo e nós ainda descendo entre a mata fechada. Foi uma felicidade geral quando vimos as primeiras luzes, sinais de casas se aproximando. Logo chegamos no asfalto, aí tivemos certeza de estar chegando. As minhas pastilhas de freio traseiras acabaram e o que freiava a bike era o metal direto com o disco, causando um ruído enorme! E ainda tivemos mais um contratempo: 2 pneus furados, primeiro o do JB e depois o do Reginaldo. Trocamos e seguindo pedalando, agora já em terreno plano, dentro de algum bairro já bem movimentado. Logo, entramos numa boa ciclovia. Ao chegar no pórtico de entrada de Paraty o amigo Márcio já nos esperava de carro e foi uma felicidade enorme encontrá-lo ali. Enfim, chegamos!

AOS AMIGOS REGINALDO, ZOREIA E JOÃO BOSCO, MEU MUITO OBRIGADO POR TUDO!

10 comentários:

Patrícia disse...

Quero saber tuuuudo dessa viagem aii!! Msm com a chuva, dever ter sido incrível!!
Confesso, estou curiosa pra ver as fotos também!!! :D
BEeeeeeeeeeeeijos estalados!

Hernâni disse...

Venham de lá essas fotos!!
(andas a dar no Duro):))

Abraço

Jorge Nogueira (Anônimo) disse...

Não demore muito, pois já estamos todos super curiosos.

Nikson Salem disse...

Passeio... [sem comentário]


Parabéns aos Peregrinos da Bike!!

Hernâni disse...

aaexcelente relato acompanhado com umas fotos "Fodasticas" :))
Essa da roupa molhada fez-me recordar quando fizemos o caminho da costa entre os Picos da Europa e Santiago de Compostela no passado mês de junho,num dia pel manhã tivemos de optar por vestir roupa molhada ou roupa molhada,pois não havia outra tal tinha sido a carga de agua na vespera e que continuou nesse dia durante toda a manhã:))
Parabens pela volta e pelas fotos,cuidado com o Bairro dos Macacos que é conhecido internacionalmente pelo tiroteio dos ultimos dias:(
Abraço

João Bosco disse...

Michel. Ótima a sua narração!
No primeiro dia eu até pensei em voltar, tamanha era a dificuldade para enfrentar vários kms empurrando a bike no barro e ainda com ameaças de cãimbras, que não chegaram a acontecer.
No segundo dia foi muito melhor, apesar daquele problema com meus freios.
Sou muito grato a vc, por ter caminhado ao meu lado, nos últimos kms até Campos Novos de Cunha.
No terceiro dia, a cada curva da estrada, esperavamos o final da subida, que não acontecia.
Foi um passeio INESQUECÍVEL, não pelas dificuldades, mas pela beleza, pela amizade, pelo contato tão intenso com a natureza e muitas coisas mais.
PS. O bairro dos Macacos que o Ernâni se refere, é no Rio, e nós estavamos em um tranquilo bairro de Silveiras SP.

Jorge Nogueira disse...

Que bom que você escreveu um relato bem detalhado, a cada linha que lia e foto que via, parecia que eu estava fazendo a viagem com vocês. Passaram uns perrengues, mas como diz o Nikson ,os imprevistos é que dão as melhores histórias e essas com certeza serão sempre lembradas , ganharam até um almoço, legal de ver que a cada canto do planeta ainda encontramos gente boa e solidária. É isso aí Michel!!! Fiquei feliz por vocês!!!! Ahh.. Já ia me esquecendo de dizer, com uns conpanheiros como esses(gente da melhor qualidade, alguns já tive a oportunidade de conhecer pessoalmente) , a gente vai na boa e sorrindo até o fim do mundo. Tchau abçs. para você e todos de VR e em especial ao João Bosco.

Jorge Nogueira disse...

Sugestão: Michel o site www.pedal.com.br é o site de mtb mais visitado do Brasil e é também , lá tem o forum, e nesse forum tem a parte de cicloturismo, onde cicloturistas do Brasil inteiro postam fotos e relatos de suas cicloviagens,tenho certeza que os leitores ficariam muito felizes de ver as fotos e relatos dessa aventura. Obs. se tiver com preguiça de digitar de novo, basta você postar algumas fotos mais interessantes e colocar o link do seu blog que o pessoal vem conferir na fonte. Tchau.

Carol Emboava disse...

Michel, que prazer passar por aqui e ver que vc continua a escrever, sempre, sempre, sempre! Muito legal... passeei por algumas páginas do seu histórico, me diverti com suas histórias e babei em algumas fotos das trips e trabalhos! Parabéns! Beijão!

Anônimo disse...

Fala Michel! Já estava algum tempo sem ver seu blog, confesso. Segundo o ditado: "o barato custa caro" foi o oposto do q aconteceu com vc e sim, o "barato custou barato e foi melhor do que o caro sem duvidas" - pneus Levorin!! haha, adorei as fotos, lugarzinho show e 244km não é pra qualquer um não hein...
abraços!!