quarta-feira, 19 de julho de 2006


Dia 10/07 . Acordei cedo e olhei pelas frestas da minha janela, vi o Sol brilhando e o Céu num azul lindo. Olhei apenas para confirmar a boa previsão do tempo que tinha visto na internet no dia anterior. O próximo passo foi começar a arrumar a barraca, os agasalhos, as comidas,lanterna, etc. (arrumar é modo de dizer, eu jogo tudo de qualquer jeito dentro da mochila). Já estava decidido a enfrentar mais uma vez minha velha amiga montanha, mas dessa vez ia ser diferente... Já fui no Açú diversas vezes, em variadas ocasiões, mas nunca tinha feito isso sozinho. Isso seria o grande diferencial, que eu planejava há muito tempo, mas que só agora tive coragem.
Uma montanha é imprevisível, e constatei isso assim que cheguei na sede do Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Uma nuvem negra contrariava todas as previsões metereológicas da internet (nem sempre as coisas obedecem as regras virtuais).E aquela nuvem de chuva me fez lembrar a noite mais sinistra da minha vida, que eu nem consegui dormir achando que um raio ia cair na minha cabeça. E ainda tive que ouvir meu amigo Fernando rezar a noite inteira, de medo. Eis minha dúvida: continuo ou volto pra casa? Bom, resolvi continuar. Mas a cada passo eu me refazia essa pergunta. O tempo ruim me fez andar como um louco, sem sequer parar para lanchar.O fato de estar sozinho ali influenciou também. Estava cansado, mas não queria parar.
Depois de 3 horas e alguns minutos de caminhada (meu recorde com uma mochila cargueira), cheguei na Pedra do Açú, meu tão desejado destino. Tratei de armar logo minha barraca e me abrigar da chuva que ameaçava cair a cada instante e do forte vento (mais uma vez, me lembrei de histórias passadas em que o vento me derrubava, de tão forte). Depois disso, resolvi dormir um pouco.Tudo ótimo, até um barulho estranho me despertar, e confesso que fiquei com medo do tal barulho que parecia ser de alguma pessoa. Logo vi que era algum bicho, mas quando saí pra ver o que era este não se encontrava mais lá (ainda bem). Pra minha surpresa o escuro da noite já tomava conta da paisagem. Mas esse não era o fato mais importante, pois constatei também que as nuvens de chuva já não estavam mais lá. Pra minha sorte, o tal vento se incumbiu de levá-las para bem longe de mim. Já era possível ver algumas estrelas e a bela Lua cheia! Agasalhei-me e passei horas admirando a beleza da noite, da Lua em especial. Vi um meteoro (que eu prefiro chamar de estrela cadente) e seguindo a tradição, não deixei de fazer meu pedido. Depois dei uma volta em toda a pedra, e percebi que não havia ninguém acampando ali, esse lugar era todo meu, só meu! Andei bastante e quando resolvi dormir já eram quase 23 hs.
Dia 11/07. Sem precisar de despertador, acordei bem cedo, umas 5 hs da manhã. Felicidade total foi sair da barraca e ver que o céu estava límpido. Havia nuvens, mas todas abaixo da altitude que eu estava (2.232 metros). Como é emocionante ver esse tapete de nuvens! Tratei de fazer algum lanche rápido pra não perder o espetáculo mais esperado: o Nascer do Sol! E o céu vai ficando avermelhado, num tom cada vez mais forte perto de onde ele nasceria.Eis que repentinamente o Astro-Rei aparece entre as belas montanhas. Esse momento é mágico e me toca de uma forma muito especial. Sentado numa pedra olhando esse espetáculo, eu refletia sobre minha vida e os rumos que ela toma. Pensei na minha família, nos meus amigos, nas pessoas que fazem parte da minha vida e especialmente em pessoas que entraram recentemente. E foram essas pessoas que tomaram grande parte de tempo nos meus pensamentos, e não só agora, mas durante toda caminhada e até inconscientemente, nos meus sonhos.
Na volta, eu conversava bastante comigo mesmo. Engraçado era quando eu percebia que estava gesticulando muito. Será que se alguém me visse iria me achar maluco? Pensei sobre o que me já me disseram várias vezes, pessoas que me indagam o motivo de botar uma mochila pesada nas costas e entrar no meio do mato, subindo morro igual um cabrito. Penso que isso não é apenas um simples esporte. Vejo como um meio de descarregar todas as energias negativas. Vejo como uma maneira simples de lazer, que me traz muita alegria apenas por estar ali sentindo a natureza e sentir que faço parte dela. Algumas das decisões mais sensatas da minha vida eu tomei com a cabeça nas nuvens.

6 comentários:

Anônimo disse...

Põ ficou muito baum vei...vc deve ser muito louco msm...rs...
cada um com seu jeito de estravassae...rs
mas ficou da hora...
bju pra ti e sorte nessas tuas viagens...
Paulinha Queiroz

Anônimo disse...

Muitas saudades de você Michel ^^
coloquei nos favoritos e vou vir aqui as vezes para dar uma espiadinha..
te adoro muito!!!

=**

Anônimo disse...

Enfim o texto completo. Já te falei que ele é muito bom. Bom de ler com os olhos e com o coração. Bem estruturado, bela conclusão. Como eu já disse uma vez, o melhor caminho é seguir sempre em frente, mesmo quando a cabeça está nas nuvens, mesmo quando os pés estão no chão. Se eu continuar isso aqui vira rima. Beijos.

Anônimo disse...

ah, parabéns pela iniciativa de criar seu blog, já estava mais do que na hora. Espero que tenha muitas atualizações. :)

Nelson disse...

Grata surpresa cara, ótimo meio de registrar e compartilhar as experiências, seu blog, que passa a ser seu "LOGBOOK" seu caderno de cume, e onde todos poderam desfrutar um pouco do que só vê quem lá esteve

Forte abraço;
Lobin

Anônimo disse...

"Penso que isso não é apenas um simples esporte. Vejo como um meio de descarregar todas as energias negativas. Vejo como uma maneira simples de lazer, que me traz muita alegria apenas por estar ali sentindo a natureza e sentir que faço parte dela. Algumas das decisões mais sensatas da minha vida eu tomei com a cabeça nas nuvens."

Agora a frase inicial do seu blog faz sentido para mim...
Linda é sua maneira de sentir e viver o mundo, de uma forma tão singela e simples. Você é uma pessoa admirável, querido.


Beijos no seu coração,
Flá.